domingo, 4 de setembro de 2011

UM FUSCA CHAMADO HORÁCIO Por Marcelo Monegato do Antigomóvel

Em 2009, recebi a missão de fazer uma página para o caderno de Automóveis do Diário do Grande ABC sobre o Fusca – definitivamente um dos carros mais simpáticos do mundo de todos os tempos. Fui atrás de alguns personagens que pudessem contar não somente a história do modelo, mas também suas histórias com o ‘besouro’. E para sorte deste jornalista que neste blog escreve, encontrei dois de uma só vez, Ervin Moretti e seu Fusca, o Horácio.



Desde a matéria que fizemos, Moretti passou a colaborar com o Diário indicando personagens e máquinas fantásticas para as matérias de carros antigos do jornal. Tornou-se um amigo. E por isso resolvi entrevistar novamente os dois, ele e o Horácio. Divirtam-se!


ANTIGOMÓVE - Como foi o primeiro encontro com o Horácio e como você o adquiriu?
ERVIN MORETTI - O Horácio era paixão antiga, pois pertencia a minha vizinha e secretamente sempre quis tê-lo. Ficava parado por semanas, e quando ele dava a partida, pegava imediatamente – sem falhas – e não a deixava na mão. Para se ter uma ideia de como era pouco usado, quando eu o comprei, a etiqueta da troca de óleo indicava que a troca havia sido feita a 2.000 km, mas há dois anos!

ANTIGOMÓVEL - Ele passou por algum processo de restauração? Quais?
ERVIN MORETTI - Eu morava numa pequena vila com 23 sobradinhos, mas todos sem garagem. O Horacio passou 31 anos ao tempo, sob sol e chuva, de maneira que tive que fazer a pintura, reparar diversos pontos de ferrugem e infiltração de água, bem como trocar a tapeçaria do teto e do assoalho. Os bancos são originais, com exceção de apoios de cabeça nos bancos dianteiros, que foram retirados, pois não eram da época. Estava com 91.000 km rodados, sem que o motor tenha sido mexido. Apenas fiz o ‘embuchamento’ do eixo da polia. Precisei procurar os frisos dos vidros, que haviam sido retirados, e os encontrei numa favela de São Bernardo, num fusca a venda. O carro estava caindo aos pedaços, mas os frisos estavam inteiros. Me diverti muito com a cara de espanto do dono do carro, quando lhe disse que queria apenas os frisos.


ANTIGOMÓVEL - Ele é seu companheiro do dia a dia ou apenas dos passeios de final de semana?
ERVIN MORETTI - Saio somente para os eventos, reuniões do Fusca Clube, ou para fazer as manutenções preventivas e trocas de óleo. Hoje ele fica numa garagem coberta, e toda vez que passeio com ele, conheço muitas pessoas que vem conversar comigo, por causa da sua cor chamativa e pelo estado de conservação. É um ótimo companheiro para se dar um "rolê", como se dizia antigamente.

ANTIGOMÓVEL - Conte um caso curioso que vocês dois passaram juntos?
ERVIN MORETTI - Certa ocasião, num evento na Faculdade Mauá, em São Caetano, uma menina de uns 8 anos, que passeva pela exposiação de mãos dadas com o pai, apontou para o Fusca e disse: " Olha pai, é o Horacio lá de Lindóia!", pois o reconheceu do evento que havíamos participado, em Águas de Lindóia. Fiquei lisonjeado, pois o Horacio marcou presença, entre tantos lindos e maravilhosos carros.

ANTIGOMÓVEL - A pergunta que não quer calar: Qual a razão de o Fusca se chamar 'Horácio'?
ERVIN MORETTI - Sempre fui fã do pequeno dinossauro do Mauricio de Souza, pela sua maneira gentil e atenciosa de tratar os aoutros, e por valorizar os laços de amizade. Na verdade me identifico com este personagem, pois tem o meu jeito de ser. Pela cor e carinho que minha esposa e eu desenvolvemos pelo fusquinha, começamos a chamá-lo de Horacio. No princípio era algo apenas entre nós e os amigos mais chegados, até que o Mario Pedro, outro grande amigo e também apaixonado por carros, encontrou um Horacio de pelúcia. A partir daí, sempre colocamos o Horacio de pelúcia sentado ao volante, em todos os eventos que vamos. Depois o Horacio ganhou um cartão de visita personalizado com foto na Estação da Luz, e vários amigos me chamam de Horácio, e outros até acham que também é o meu nome, que emprestei ao carrinho.

ANTIGOMÓVEL - Quais os cuidados que você te m com o Horácio?
ERVIN MORETTI - Tento deixá-lo sempre limpo e encerado, com as trocas de óleo no tempo correto, e não viajo para muito longe, indo apenas a eventos em cidades perto de São Paulo. Certa ocasião, após pegar uma chuva, um amigo disse que o Horacio precisva ser lavado e então passar um pano seco, para não ficar com nenhuma umidade. O nosso amigo foi imediatamente corrigido, pois o Horacio iria tomar um banho e depois enxugado com a sua toalha, que é especial para após os banhos. Será que estou exagerando?

ANTIGOMÓVEL - O Horácio tem preço?
ERVIN MORETTI - Nunca pensei nisso, pois para a Flavia e eu, seria como pensar em vender alguém da família. É apenas um carro, mas as oportunidades que ele nos deu, como viajar e conhecer tantas pessoas interessantes, nos leva a acreditar que se assim o fizessemos, perderíamos coias que nem podemois imaginar. Então ele continua conosco. A Flavia diz que ele seria o único ponto de briga, no caso de uma suposta separação.



DECLARAÇÃO DE AMOR – Algo que preciso salientar, é que o Horacio mostrou-me que eu poderia frequentar e ter amigos num ambiente que eu considerava elitista e fechado. Pois era o que me diziam pessoas que também tinham Fuscas ou outros carros nacionais, e sentiam-se discriminados por aqueles que tinham imponentes e raros automoveis. Na verdade, descobrimos que todos gostam de carros antigos, e prestam o devido reconhecimento aos que cuidam bem dos seus veículos, independente da marca, modelo, ano e país de origem.

Entrevista enviada por Ervin Moretti, retirada do site:
http://antigomovel.blogspot.com/2011/01/dia-nacional-do-fusca-por-ervin-moretti.html


ANTOGOMÓVEL – Ervin, de onde vem e desde quando você é apaixonado pelos carros antigos?
ERVIN MORETTI - Aos 7 anos ganhei um trenzinho elétrico, cujos trilhos foram fixados numa prancha de Eucatex, com ruas, casas e carrinhos. Apaixonei-me pelas miniaturas e fui ganhando outras, que ainda me acompanham ( hoje são cerca de 1.000). Eram do Interlagos, da Kombi, da Vemaguete e do Fusca, é claro. Sempre gostei de carros e cursei engenharia mecânica por causa deles. Estas lembranças ficaram comigo e a medida que entendia o funcionamento dos automóveis, comecei a dar valor aos pioneiros, pois conseguiam fazer coisas sem conhecimentos, com base na própria experiência e por gostarem de carros. Além disso, os carros antigos têm personalidade, ao contrario dos atuais que são todos parecidos.

ANTIGOMÓVEL - Qual foi o primeiro antigo que marcou sua vida?
ERVIN MORETTI - Um Oldsmobile dos pais de dois irmãos e grandes amigos até hoje que nos davam carona até a escola. Grande e silencioso, acomodava todo mundo (eles, eu e mimha irmã caçula). Mas o fusquinha 57 que meu pai comprou quando eu tinha seis anos também deixou marcas indeléveis em minha memória, e sinto saudades de ficar com minha irmã, dentro do bagageiro interno( chiqueirinho), acenado para os carros que vinham atrás de nós.